Rock nacional - Os Baobás
Em 1966 uma banda paulista surgia no cenário de grupos que foram se formando à medida que a Jovem Guarda tomava cada vez mais conta do país. Os Baobás oficialmente debutaram com dois fatos que os fariam existir por dois anos, assim encerrando atividades em 1968: tal qual Os Mutantes, o nome da banda se originou graças a Ronnie Von, que extraiu do livro-símbolo de sua carreira O Pequeno Príncipe a nomenclatura de uma árvore chamada baobá, e o lançamento de seu primeiro compacto, no dito ano de 66.
Durante sua existência, a banda lançou cinco compactos e um disco, além de participações. O primeiro compacto d’Os Baobás é constantemente lembrado pela antológica versão de “Paint It, Black” dos Rolling Stones, vertida aqui por Ricardo Contins (guitarra e principal compositor da banda) e Arquimedes (percussão) para “Pintada de Preto” (“A minha vida é toda cheia de defeito/Ela para mim é toda pintada de preto”), mas o disco é composto também pela ótima “Bye Bye My Darling”, de autoria original da banda, via Contins. Versando sobre uma relação à distância, originado por uma viagem de um dos interlocutores (“Bye bye my darling, goodbye/I’m going away just for a ride/And before this ride I’ll be back again”, canta o refrão) sobre uma base instrumental que já difere sutilmente de algumas ingenuidades da Jovem Guarda, tal música forma sua existência já na inusitada natureza de composição d’Os Baobás: o de lançar as suas próprias composições em idioma inglês. Compacto II (1966)
O segundo compacto da banda traz uma cover de “Happy Together”, do The Turtles, iniciando um tanto ríspida, com os vocais distintos da felicidade colorida da original e uma dura e seca bateria, mas logo deslancha em animados coros e um discreto órgão ao fundo. Mas assim como o primeiro trabalho do grupo, é da banda em si a grata surpresa: “Down Down”, de autoria, novamente, de Ricardo Contins, é uma das mais bem resolvidas pedradas do período sessentista brasileiro, clássico garageiro que mais expressa a natureza musical da banda, assim como o seu talento para composições próprias. Abordando um assunto corrente na maioria das canções do período, a desilusão amorosa, Contins retrata a comum vassalagem descomunal não como sempre foi conhecida – como romantismo exacerbado – mas sim relatando em três partes atos como a lamúria, a indagação, e enfim a revanche do locutor em relação a seu amor, em uma letra tão sucinta quanto genial, fazendo uso do termo “down” em duas conotações possíveis dentro do cenário: o desapontamento (“Down, down/Down, down/I have a girl that I love her so/But she always puts me down [...] What can I do if I need her, oh!?”) e revanche (“That I’m gonna put my little girl so down/I keep on walking down, down/ I keep on rocking down, down”), tendo os vocais para apoiar ainda mais tal discurso.
O Disco, Os Baobás – Baobás (1968) Um disco basicamente de covers, que devido ao mistério em torno da história da banda levou muita gente aos sebos do país atrás de uma cópia do lp. Aquela capa colorida, apenas com o nome da banda em vermelho (sem o “Os”), no entanto, fez a alegria de poucos. Gravado por um selo pequeno – Mocambo/Rozenblit – em 1968, o álbum é uma das maiores raridades da discografia nacional. A história recontada dos Baobás tem seu ponto alto na presença entre seus integrantes do atual produtor e ex-baixista dos Mutantes, Arnolpho Lima Filho, o Liminha. Aliás, com uma passagem meteórica pela banda, pois participa do único álbum por tabela: ele gravou apenas o compacto com “Ligth My Fire (Doors) e Tonite (Guga, cantor da banda), esta última presente no lp.
Liminha, que aparece na capa do compacto, é geralmente confundido fisicamente com o também baixista Nescau, presente na foto do lp. A história inteira da banda, que desembocou na gravação desse álbum, começa com a beatlemania, quando adotaram o nome de Rubber Souls, e participavam de programas de televisão na capital paulista. Em 1966, estrearam com o compacto Pintada de Preto (Painted It Black, dos Rolling Stones)/Bye Bye My Darling (deles), ao qual seguiram-se mais quatro disquinhos, entre eles Happy Together (Turtles) e Down Down, um punk na linha “nuggets”, de autoria do ex-O’Seis (o pré-Mutantes), Rafael Vilardi, então membro da banda. A primeira e original formação do grupo contava com Ricardo Contins (guitarra), Jorge Pagura (bateria), Carlos (baixo), Renato (guitarra solo) e Arquimedes (pandeiro). Mas pela banda ainda passaram, além dos já citados, Tito, Tuca (ex-Lunáticos, depois Beatniks, Galaxies e Sunday), Guga, Calia e Tico Terpins (depois Joelho de Porco).
Do disco, participam (da esquerda para a direita na foto da capa): Tuca, Nescau, Guga, Calia, Tico Terpins e Pagura. O repertório do álbum é um mergulho na clássica e importada psicodelia da época, incluindo covers para Doors (“Hello, I Love You”), Love (“Orange Skies”) e Kinks (“Well, Respected Man”). Em suas doze faixas, ainda rolam hits do momento (“The Dock Of The Bay” – Otis Redding), standars como “Hey Joe” (Jimi Hendrix) e duas interessantes composições próprias – “Tonite” e “Got To Say Goodbye” (do guitarrista Tuca), ambas cantadas em inglês. Com boa qualidade instrumental, o disco sofre um problema de prensagem, responsável por uma espécie de chiado de fundo, que não chega a atrapalhar a audição.
O nome Baobás – árvore gigante e frondosa da África – retirado do livro “O Pequeno Princípe”, foi sugestão de Ronnie Von, que também batizou os Mutantes. Além do padrinho, com quem gravou um compacto (“Menina Azul”, em 67), o grupo também acompanhou Caetano Veloso pós-Alegria Alegria em programas de televisão e shows, substituindo os Beat Boys. Clássica banda de garagem, com as conhecidas exceções, a maioria dos integrantes virou os anos setenta nas universidades, de onde saíram médicos, dentistas e empresários. Textos: Roberto Iwai e Marcelo Iwai
(publicado originalmente na revista virtual The Freakium!) e Fernando Rosa, publicado no site Senhor F e http://armazemdamusicabrasileira.blogspot.com
Pesquisa - Magno Moreira
Durante sua existência, a banda lançou cinco compactos e um disco, além de participações. O primeiro compacto d’Os Baobás é constantemente lembrado pela antológica versão de “Paint It, Black” dos Rolling Stones, vertida aqui por Ricardo Contins (guitarra e principal compositor da banda) e Arquimedes (percussão) para “Pintada de Preto” (“A minha vida é toda cheia de defeito/Ela para mim é toda pintada de preto”), mas o disco é composto também pela ótima “Bye Bye My Darling”, de autoria original da banda, via Contins. Versando sobre uma relação à distância, originado por uma viagem de um dos interlocutores (“Bye bye my darling, goodbye/I’m going away just for a ride/And before this ride I’ll be back again”, canta o refrão) sobre uma base instrumental que já difere sutilmente de algumas ingenuidades da Jovem Guarda, tal música forma sua existência já na inusitada natureza de composição d’Os Baobás: o de lançar as suas próprias composições em idioma inglês. Compacto II (1966)
O segundo compacto da banda traz uma cover de “Happy Together”, do The Turtles, iniciando um tanto ríspida, com os vocais distintos da felicidade colorida da original e uma dura e seca bateria, mas logo deslancha em animados coros e um discreto órgão ao fundo. Mas assim como o primeiro trabalho do grupo, é da banda em si a grata surpresa: “Down Down”, de autoria, novamente, de Ricardo Contins, é uma das mais bem resolvidas pedradas do período sessentista brasileiro, clássico garageiro que mais expressa a natureza musical da banda, assim como o seu talento para composições próprias. Abordando um assunto corrente na maioria das canções do período, a desilusão amorosa, Contins retrata a comum vassalagem descomunal não como sempre foi conhecida – como romantismo exacerbado – mas sim relatando em três partes atos como a lamúria, a indagação, e enfim a revanche do locutor em relação a seu amor, em uma letra tão sucinta quanto genial, fazendo uso do termo “down” em duas conotações possíveis dentro do cenário: o desapontamento (“Down, down/Down, down/I have a girl that I love her so/But she always puts me down [...] What can I do if I need her, oh!?”) e revanche (“That I’m gonna put my little girl so down/I keep on walking down, down/ I keep on rocking down, down”), tendo os vocais para apoiar ainda mais tal discurso.
O Disco, Os Baobás – Baobás (1968) Um disco basicamente de covers, que devido ao mistério em torno da história da banda levou muita gente aos sebos do país atrás de uma cópia do lp. Aquela capa colorida, apenas com o nome da banda em vermelho (sem o “Os”), no entanto, fez a alegria de poucos. Gravado por um selo pequeno – Mocambo/Rozenblit – em 1968, o álbum é uma das maiores raridades da discografia nacional. A história recontada dos Baobás tem seu ponto alto na presença entre seus integrantes do atual produtor e ex-baixista dos Mutantes, Arnolpho Lima Filho, o Liminha. Aliás, com uma passagem meteórica pela banda, pois participa do único álbum por tabela: ele gravou apenas o compacto com “Ligth My Fire (Doors) e Tonite (Guga, cantor da banda), esta última presente no lp.
Liminha, que aparece na capa do compacto, é geralmente confundido fisicamente com o também baixista Nescau, presente na foto do lp. A história inteira da banda, que desembocou na gravação desse álbum, começa com a beatlemania, quando adotaram o nome de Rubber Souls, e participavam de programas de televisão na capital paulista. Em 1966, estrearam com o compacto Pintada de Preto (Painted It Black, dos Rolling Stones)/Bye Bye My Darling (deles), ao qual seguiram-se mais quatro disquinhos, entre eles Happy Together (Turtles) e Down Down, um punk na linha “nuggets”, de autoria do ex-O’Seis (o pré-Mutantes), Rafael Vilardi, então membro da banda. A primeira e original formação do grupo contava com Ricardo Contins (guitarra), Jorge Pagura (bateria), Carlos (baixo), Renato (guitarra solo) e Arquimedes (pandeiro). Mas pela banda ainda passaram, além dos já citados, Tito, Tuca (ex-Lunáticos, depois Beatniks, Galaxies e Sunday), Guga, Calia e Tico Terpins (depois Joelho de Porco).
Do disco, participam (da esquerda para a direita na foto da capa): Tuca, Nescau, Guga, Calia, Tico Terpins e Pagura. O repertório do álbum é um mergulho na clássica e importada psicodelia da época, incluindo covers para Doors (“Hello, I Love You”), Love (“Orange Skies”) e Kinks (“Well, Respected Man”). Em suas doze faixas, ainda rolam hits do momento (“The Dock Of The Bay” – Otis Redding), standars como “Hey Joe” (Jimi Hendrix) e duas interessantes composições próprias – “Tonite” e “Got To Say Goodbye” (do guitarrista Tuca), ambas cantadas em inglês. Com boa qualidade instrumental, o disco sofre um problema de prensagem, responsável por uma espécie de chiado de fundo, que não chega a atrapalhar a audição.
O nome Baobás – árvore gigante e frondosa da África – retirado do livro “O Pequeno Princípe”, foi sugestão de Ronnie Von, que também batizou os Mutantes. Além do padrinho, com quem gravou um compacto (“Menina Azul”, em 67), o grupo também acompanhou Caetano Veloso pós-Alegria Alegria em programas de televisão e shows, substituindo os Beat Boys. Clássica banda de garagem, com as conhecidas exceções, a maioria dos integrantes virou os anos setenta nas universidades, de onde saíram médicos, dentistas e empresários. Textos: Roberto Iwai e Marcelo Iwai
(publicado originalmente na revista virtual The Freakium!) e Fernando Rosa, publicado no site Senhor F e http://armazemdamusicabrasileira.blogspot.com
Pesquisa - Magno Moreira
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