✌O `lado árabe da Espanha`
Mouros, mauritanos, mauros ou sarracenos são considerados, originalmente, os povos oriundos do Norte de África, praticantes do Islão, nomeadamente Marrocos, Argélia, Mauritânia e Saara Ocidental, invasores da região da Península Ibérica, Sicília, Malta e parte de França, durante a Idade Média.
A invasão moura na Península Ibérica foi longa na duração e rápida na conquista. Os mouros precisaram de menos de uma década para dominar a região – que permaneceria sob seu controle durante quase oito séculos. A invasão começou em 711 e três anos depois já dominava a maior parte do território da península Ibérica, para terminar definitivamente apenas em 1492.
O curioso é que essa ocupação foi incentivada pelo mesmo povo que habitava a região. Os visigodos, como eram chamados, tinham origem germânica, mas haviam se convertido ao cristianismo e viviam envolvidos em disputas internas.
Por causa dessa rivalidade, uma facção de visigodos resolveu pedir ajuda ao líder árabe Musa ibn Nusayr, que dominava o norte da África. Musa não só atendeu ao pedido como aproveitou para tomar toda a península. Durante mais de 20 anos, o avanço mouro enfrentou pouca resistência e só foi barrado pelos francos, povo cristão que habitava o território francês, a menos de 300 quilômetros de onde hoje fica Paris. A tentativa de dominar o resto da Europa foi detida, mas a ocupação da península Ibérica, não. Mas quem, afinal, eram os mouros?
Tratava-se de um povo africano que vivia onde ficam hoje o Marrocos e a parte ocidental da Argélia. O termo vem do latim maures, que significa “negro”, em referência à pele escura da população que havia sido dominada pelo Império Romano no século I a.C. No início do século VIII d.C., os mouros se converteram ao islamismo após o contato com árabes vindos do Oriente Médio para espalhar os mandamentos do profeta Maomé. A religião que os mouros levaram consigo ao invadir a península Ibérica contribuiria, porém, para sua expulsão da Europa.
Foi o sentimento antimuçulmano que fez crescer, nos territórios cristãos ocupados, a resistência aos invasores a partir do século XI, principalmente no norte da Espanha. Ali ficava o reino de Castela, onde surgiu o líder militar El Cid, consagrado herói na luta pela libertação de seu povo. A “reconquista” – como os historiadores batizaram a ofensiva contra os mouros – ganhou força nos dois séculos seguintes e, por volta de 1250, os cristãos conseguiram recuperar a maior parte da península. Alguns mouros ainda resistiram na cidade de Granada, na Espanha, até 1492, data que marca o fim do domínio muçulmano na região.
Mesmo assim, os mouros deixaram ali uma forte herança cultural – e não à toa, pois os árabes eram, na época, a vanguarda científica do planeta. A arquitetura e a engenharia naval são apenas dois exemplos da fértil contribuição dos invasores aos futuros impérios mundiais estabelecidos pelos navegadores espanhóis e portugueses. Além disso, estilos musicais como o flamenco e o fado nasceram influenciados por ritmos e instrumentos mouros – o violão, por exemplo, deriva de antigos instrumentos árabes.Os mouros passaram quase 800 anos na Península Ibérica, onde deixaram uma rica herança cultural. Influenciaram os europeus na maneira de vestir, comer e pensar.
O reinado islâmico na Europa foi uma rara união entre o Oriente e Ocidente e, talvez, o único momento na história em que muçulmanos, judeus e cristãos viveram em harmonia. Na região da Andaluzia, na Espanha, onde os mouros permaneceram por mais tempo, as influências árabes são ainda mais evidentes.
Na minha viagem, optei por conhecer os palácios, castelos e mesquitas que sobreviveram ao tempo nas cidades de Sevilha, Córdoba e Granada.
Granada
La Alhambra, principal construção árabe de Granada, é um dos mais belos complexos arquitetônicos do mundo. Conta com o Alcazaba (forte), Alcazár (palácio), Gerneralife (palácio de verão e jardins) e a muralha. Nesses palácios, viviam sultões com muito luxo e conforto. A fortaleza Alcazaba, erguida na época das taifas, ainda no século 11, era o principal ponto de defesa da cidade. Os azulejos, com as mais variadas cores, tamanhos e desenhos, também são uma particularidade da arquitetura árabe.
O palácio Alcazár Nazarí de Comares é marcado por belíssimos espaços, como o Patio de los Leones, cercado por 124 colunas de mármore e uma fonte no meio, com 12 leões. O grande espelho d`agua do Pátio de los Arrayanes, que reflete com perfeição o céu e os belos arcos do palácio, é um dos cartões postais do lugar. A Sala de los Abencerrajes é caracterizada pela decoração rebuscada. O teto, inspirado geometricamente no Teorema de Pitágoras, é uma versão estilosa do céu. O Generalife era o palácio de verão, lugar de descanso dos sultões, repleto de belos jardins floridos e simétricos. Localizado no alto da montanha El Sol, oferece uma ótima vista para a cidade, caracterizada por suas ruelas estreitas e casas brancas, no melhor estilo islâmico.
Córdoba
A mesquita de Córdoba já foi o maior templo do mundo islâmico. Hoje, é a terceira maior do mundo, com 23 mil metros quadrados. Construída segundo a ordem do emir de Córdoba, Abd al- Rahman I, no século 8, foi o primeiro monumento de origem muçulmana arquitetado no Ocidente. Um fato muito curioso é que, quando, em 1236, ocorreu a reconquista cristã, o lugar foi transformado em uma catedral, mas sem alterar a arquitetura moura. A mesquita é, atualmente, uma das edificações mais exóticas do planeta, unindo características islâmicas, como os vários arcos e colunas de mármore, com os elementos da igreja cristã, como capelas, altares e santos.
Sevilha
Capital da Andaluzia e quarta maior cidade da Espanha, Sevilha guarda um belíssimo legado mouro: o Reales Alcázares, construído com inspiração no La Alhambra, de Granada. O palácio real, que começou a ser erguido ainda no ano de 844, é um ótimo exemplo da arte moura. Cada sala é decorada, nos mínimos detalhes. Vale também visitar os belos jardins ornamentados.
A invasão moura na Península Ibérica foi longa na duração e rápida na conquista. Os mouros precisaram de menos de uma década para dominar a região – que permaneceria sob seu controle durante quase oito séculos. A invasão começou em 711 e três anos depois já dominava a maior parte do território da península Ibérica, para terminar definitivamente apenas em 1492.
O curioso é que essa ocupação foi incentivada pelo mesmo povo que habitava a região. Os visigodos, como eram chamados, tinham origem germânica, mas haviam se convertido ao cristianismo e viviam envolvidos em disputas internas.
Por causa dessa rivalidade, uma facção de visigodos resolveu pedir ajuda ao líder árabe Musa ibn Nusayr, que dominava o norte da África. Musa não só atendeu ao pedido como aproveitou para tomar toda a península. Durante mais de 20 anos, o avanço mouro enfrentou pouca resistência e só foi barrado pelos francos, povo cristão que habitava o território francês, a menos de 300 quilômetros de onde hoje fica Paris. A tentativa de dominar o resto da Europa foi detida, mas a ocupação da península Ibérica, não. Mas quem, afinal, eram os mouros?
Tratava-se de um povo africano que vivia onde ficam hoje o Marrocos e a parte ocidental da Argélia. O termo vem do latim maures, que significa “negro”, em referência à pele escura da população que havia sido dominada pelo Império Romano no século I a.C. No início do século VIII d.C., os mouros se converteram ao islamismo após o contato com árabes vindos do Oriente Médio para espalhar os mandamentos do profeta Maomé. A religião que os mouros levaram consigo ao invadir a península Ibérica contribuiria, porém, para sua expulsão da Europa.
Foi o sentimento antimuçulmano que fez crescer, nos territórios cristãos ocupados, a resistência aos invasores a partir do século XI, principalmente no norte da Espanha. Ali ficava o reino de Castela, onde surgiu o líder militar El Cid, consagrado herói na luta pela libertação de seu povo. A “reconquista” – como os historiadores batizaram a ofensiva contra os mouros – ganhou força nos dois séculos seguintes e, por volta de 1250, os cristãos conseguiram recuperar a maior parte da península. Alguns mouros ainda resistiram na cidade de Granada, na Espanha, até 1492, data que marca o fim do domínio muçulmano na região.
Mesmo assim, os mouros deixaram ali uma forte herança cultural – e não à toa, pois os árabes eram, na época, a vanguarda científica do planeta. A arquitetura e a engenharia naval são apenas dois exemplos da fértil contribuição dos invasores aos futuros impérios mundiais estabelecidos pelos navegadores espanhóis e portugueses. Além disso, estilos musicais como o flamenco e o fado nasceram influenciados por ritmos e instrumentos mouros – o violão, por exemplo, deriva de antigos instrumentos árabes.Os mouros passaram quase 800 anos na Península Ibérica, onde deixaram uma rica herança cultural. Influenciaram os europeus na maneira de vestir, comer e pensar.
O reinado islâmico na Europa foi uma rara união entre o Oriente e Ocidente e, talvez, o único momento na história em que muçulmanos, judeus e cristãos viveram em harmonia. Na região da Andaluzia, na Espanha, onde os mouros permaneceram por mais tempo, as influências árabes são ainda mais evidentes.
Na minha viagem, optei por conhecer os palácios, castelos e mesquitas que sobreviveram ao tempo nas cidades de Sevilha, Córdoba e Granada.
Granada
La Alhambra, principal construção árabe de Granada, é um dos mais belos complexos arquitetônicos do mundo. Conta com o Alcazaba (forte), Alcazár (palácio), Gerneralife (palácio de verão e jardins) e a muralha. Nesses palácios, viviam sultões com muito luxo e conforto. A fortaleza Alcazaba, erguida na época das taifas, ainda no século 11, era o principal ponto de defesa da cidade. Os azulejos, com as mais variadas cores, tamanhos e desenhos, também são uma particularidade da arquitetura árabe.
O palácio Alcazár Nazarí de Comares é marcado por belíssimos espaços, como o Patio de los Leones, cercado por 124 colunas de mármore e uma fonte no meio, com 12 leões. O grande espelho d`agua do Pátio de los Arrayanes, que reflete com perfeição o céu e os belos arcos do palácio, é um dos cartões postais do lugar. A Sala de los Abencerrajes é caracterizada pela decoração rebuscada. O teto, inspirado geometricamente no Teorema de Pitágoras, é uma versão estilosa do céu. O Generalife era o palácio de verão, lugar de descanso dos sultões, repleto de belos jardins floridos e simétricos. Localizado no alto da montanha El Sol, oferece uma ótima vista para a cidade, caracterizada por suas ruelas estreitas e casas brancas, no melhor estilo islâmico.
Córdoba
A mesquita de Córdoba já foi o maior templo do mundo islâmico. Hoje, é a terceira maior do mundo, com 23 mil metros quadrados. Construída segundo a ordem do emir de Córdoba, Abd al- Rahman I, no século 8, foi o primeiro monumento de origem muçulmana arquitetado no Ocidente. Um fato muito curioso é que, quando, em 1236, ocorreu a reconquista cristã, o lugar foi transformado em uma catedral, mas sem alterar a arquitetura moura. A mesquita é, atualmente, uma das edificações mais exóticas do planeta, unindo características islâmicas, como os vários arcos e colunas de mármore, com os elementos da igreja cristã, como capelas, altares e santos.
Sevilha
Capital da Andaluzia e quarta maior cidade da Espanha, Sevilha guarda um belíssimo legado mouro: o Reales Alcázares, construído com inspiração no La Alhambra, de Granada. O palácio real, que começou a ser erguido ainda no ano de 844, é um ótimo exemplo da arte moura. Cada sala é decorada, nos mínimos detalhes. Vale também visitar os belos jardins ornamentados.
Pesquisa - Magno Moreira
Fonte - Revista Super Interessante e ZH
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